Basta pensar para existir? (por Içami Tiba)
O ser humano vive em dois mundos em constante interação: mundo interno e mundo externo.
O mundo interno é tudo o que está dentro do ser e é constituído por um tripé formado pelo que ele pensa (área mente), sente (área corpo) e percebe do ambiente ao seu redor (área percepção do ambiente).
O mundo externo é tudo o que ele percebe e com que se relaciona, mas está fora dele, formado por outro tripé, que são os relacionamentos (familiares e sociais), atividades (escola e trabalho) e seu ecossistema (território e pertences).
“Penso, logo existo”, do grande filósofo francês René Descartes, soa para mim como uma afirmação incompleta, pois posso sentir, pensar, fantasiar, sonhar acordado que sou um nadador, e não saber nadar. Para ser nadador, tenho que saber nadar. O que me qualifica como nadador é saber nadar.
Pensar precede o fazer, mas não adianta só pensar e não fazer. É a ação de nadar que me torna um nadador. Portanto, para eu existir, eu preciso agir. É no agir integrado com o pensar que o ser humano existe.
Um pensamento pode criar uma ação, assim como uma ação pode gerar um pensamento. Toda ação busca o mundo externo. Portanto, ação e pensamento são uma interação dos mundos interno e externo.
Um pensamento, uma fantasia, um sonho, um devaneio podem gerar uma sensação física, um sentimento, uma emoção, e vice-versa. Dessa forma, existe também uma interação entre os mundos externo e interno.
Se um filho (mundo externo) agride (ação) a mãe, seria natural ela sentir-se mal (área corpo); mas, tão logo pensasse nos motivos da agressão (área mente), reagiria (ação para fora) respondendo a ela. Mas, se a mãe nada manifesta (não reação), a força que seria gasta para a reação acaba sendo gasta para se calar (reação que se volta para dentro). A agressividade engolida pode ser transformada em depressão.
Fica bem claro que não é o fato de ser agredida que deixa a mãe deprimida, mas a não reação dela à agressão recebida. Nem sempre uma reação à agressão precisa ser uma contra-agressão. A mãe pode encontrar outros caminhos para não mais “engolir sapos”.
Todos os estímulos (ações) podem chegar tanto de fora para dentro como de dentro de si para si. Com uma reação, uma pessoa tem a possibilidade de mudar o mundo externo e interno. Essa capacidade de alterar o rumo dos acontecimentos para melhorar a vida é uma das principais capacidades do ser humano.
Livro: Adolescentes: Quem Ama, Educa!, de Içami Tiba. Editora Integrare.