O colorido dos diversos pontos de vista (por Maria Tereza Maldonado)
A percepção rege o comportamento: o modo pelo qual as pessoas olham para os fatos determina a maneira como agirão.
É bom lembrar que nossos órgãos dos sentidos são extremamente limitados. Nossa visão, por exemplo, percebe uma parte bem pequena do espectro de luz, e o mesmo ocorre com a audição. Além disso, nossas flutuações emocionais, características pessoais e histórias de vida são fatores determinantes na nossa percepção seletiva, parcial e fragmentada. Por isso, é impossível perceber corretamente a “realidade dos fatos”. Inevitavelmente, selecionamos alguns aspectos e nem sequer percebemos outros e damos pesos diferentes àqueles que conseguimos perceber.
Nossa visão de mundo pode entrar em conflito com a maneira de outras pessoas enxergarem a mesma situação. Visão de mundo refere-se a estruturas que contêm nossos valores, crenças e suposições, e que influenciam nossa identidade (a maneira como nos vemos); a partir daí, construímos os significados de nossas vidas e relacionamentos. A solução eficaz para os conflitos precisa levar em conta essas diferenças, sejam elas conscientes ou não.
Os conflitos surgem a partir das diversas visões dos diferentes atores. Muitas vezes, também, o conflito existe, mas não é percebido nem reconhecido: é o conflito latente, que transparece no clima de tensão e insatisfação, intensificando a frustração, a desconfiança e a desarmonia nos vários níveis em que ele se instala (intrapessoal, interpessoal ou organizacional). Ao contrário do conflito manifesto, que é visível e palpável, o latente gera muitas correntes subterrâneas porque as pessoas envolvidas preferem fazer de conta que o problema não existe, não manifestam claramente seu desconforto ou desagrado e pensam que falar sobre ele é mais perigoso do que mexer em casa de marimbondos.
A mudança na maneira de olhar o conflito também altera o colorido da percepção. Muitos parecem insolúveis porque as pessoas envolvidas “empacam” rigidamente em suas perspectivas. No entanto, quando conseguem “redefinir” o conflito, ao levar em consideração as verdadeiras necessidades de cada um (por que cada um realmente quer o que diz que quer), a probabilidade de encontrar soluções satisfatórias para ambas as partes aumenta.
Livro: O bom conflito – Juntos buscaremos a solução, de Maria Tereza Maldonado. Editora Integrare.