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Pais autoritários: mitos e verdades (por Leo Fraiman)

Livro; Meu filho chegou à adolescência, e agora? Como construir um projeto de vida Juntos; Leo Fraiman; Integrare

 

Esses pais oferecem muitas regras e limites, mas pouco afeto e pouco envolvimento na vida dos filhos. Aproximadamente 12% dos pais têm esse perfil. Estes são os pais linha-dura, cheios de verdade e desejo de poder dentro de casa.
          Não são raros os casos de violência verbal ou até física entre esses pais e/ou entre eles e os filhos. Em nome da obediência, vale chinelada, grito, ameaças ou até agressões. Nessa casa há crenças do tipo: “A vida não é fácil”, “Criança não dá opinião que presta”, “Adolescente é aborrescente” e “Quando um pai fala, é porque está certo”. Algumas falas típicas: “Filho, se você não me obedecer, seu pai vai ficar sabendo”, “Você não sabe de nada, moleque”, “Eu sei o que é melhor para você”, “Cala sua boca se não quiser levar uma surra, menina”, “Você vai prestar vestibular para esta faculdade que eu estou dizendo e não para este seu curso de vagabundo”.
          Aparentemente, este é um modelo de educação que levaria à proteção e segurança. Porém, o preço desse padrão é que junto com a firmeza excessiva vem o medo, a distância e, ironicamente, uma grande insegurança. Apenas 4% desses filhos têm uma boa sensação de autoeficácia e somente 7% têm boas relações sociais e um bom grau de otimismo. A autoestima também é pouco encontrada nesse grupo: 11%. E 26% desses filhos apresentam depressão.
          Na mente desses jovens, com frequência, estão pensamentos como: “tenha medo”, “cuidado”, “você está errado”, “não erre ou será punido”, “não te aceito como é”. Esse modelo autoritário pode ser perigoso e desmotivador. Como viver bem, como criar, como desejar, como tentar algo novo diante de tanto medo? Mesmo se esforçando, esses filhos sempre recebem bronca ou silêncio. Então, muitos acabam pensando: “De que adianta eu me esforçar mais, se mesmo que tire notas altas não passará de mais uma obrigação e nem será reconhecido?”.
          É verdade que, para alguns filhos, a postura firme é fator de sucesso nos estudos. Com medo de serem recriminados, eles estudam mesmo, mas no médio prazo isso pode acabar mais desmotivando do que favorecendo um aprendizado prazeroso e significativo.
          Estuda-se para não levar bronca e não pelo prazer de aprender. Um dia, perde-se a motivação e vem a chinelada, o grito, e assim o filho volta a estudar. Mais tarde, ao vir uma nota ruim, usa-se o tapa e o filho estuda mais. Até quando isso se sustenta? Não são raros os casos daqueles que pegam birra de estudar porque era apenas isso que seus pais valorizavam. Ser firme e ser violento são coisas bem diferentes.
          Pais autoritários acreditam que uma boa educação se baseia apenas em manter as regras estabelecidas, porque acreditam que um bom filho tem de obedecer sempre. Eles acham que sabem de tudo e que sua experiência e papel os autoriza a não precisar dialogar, negociar ou validar o outro. Usam sinais de poder como cara feia, voz alta, dedo em riste, queixo levantado. Quando os filhos vão escolher uma profissão, acreditam que sabem exatamente o que será melhor para eles e apostam alto em carreiras tradicionais.
          Querem impor seu desejo aos filhos e, com alguma frequência, quando estes preferem uma profissão que eles não conhecem ou não apreciam, dizem: “Então eu não pago sua faculdade”. A carteirada impera.
          Para eles há carreiras de homem e de mulher, profissões que pagam bem ou mal. O conceito de certo e errado é bem claro para eles, ainda que hoje em dia já tenhamos mais de duzentas opções de cursos universitários, com mais de 2.511 ocupações profissionais, número que cresce a cada ano.
          O que esses pais desconsideram é que as verdades e os comportamentos que os trouxeram até o momento são (e serão cada dia mais) diferentes daqueles que seus filhos enfrentam no mundo atual. O mundo mudou mas, para eles, suas estratégias, verdades e respostas ainda são as melhores. Quanta arrogância mascarando o puro medo de errar!
          Esses pais frequentemente não conhecem seus filhos, não querem saber de ouvir e sua forma de educar é cheia de verdades prontas. Por isso, mais uma vez, esses são filhos sem pais, que acabam sem projeto, sem ambição e sem interesses.

Livro: Meu filho chegou à adolescência, e agora? Como construir um projeto de vida Juntos, de Leo Fraiman. Editora Integrare.
Livro; Meu filho chegou à adolescência, e agora? Como construir um projeto de vida Juntos; Leo Fraiman; Integrare


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