Aprender, Eugenio Mussak, Um novo olhar -

Por que temos nós, adultos, a dificuldade de admitir nossa ignorância, e expor nossa necessidade em aprender o novo? (por Eugenio Mussak)

Livro; Um novo olhar; Eugenio Mussak; Integrare

 

Tudo o que aprendemos, seja um conhecimento, um conceito, uma nova competência ou mesmo um procedimento simples, depende do nosso repertório anterior. De certa forma, só aprendemos mesmo aquilo que já sabemos. Apenas criamos uma nova organização mental, através de insights e significados.

          É por isso que, quando um novo conhecimento contraria o que já tínhamos consagrado em nossa mente, apresentamos uma imensa resistência para aceitá-lo, quanto mais incorporá-lo.

          Em um mundo quase atordoado com tantas novidades, com uma imensa quantidade de pesquisas, novas tecnologias e produtos, abordagens inéditas em todas as áreas do conhecimento e todas as profissões, a capacidade de desaprender passou a ser tão importante quanto a de aprender.

          Desaprender não significa esquecer, nem ignorar o conhecimento anterior. Até porque é justamente o velho que pode alavancar a aprendizagem do novo. Não estamos partindo do zero, portanto.

          O que precisamos ter é uma qualidade que as crianças têm de sobra: a curiosidade. E precisamos nos livrar de outra que as crianças não têm nem um pouquinho: o preconceito.

          Crianças são naturalmente curiosas pelo simples motivo de que estão descobrindo um mundo até então desconhecido. Tudo é novidade, afinal de contas. Infelizmente, este mundo não está preparado para conviver com os curiosos, pois eles incomodam. Pais, professores, chefes, todos acabam, não por dolo, mas por absoluta incapacidade ou tempo para responder a tudo, inibindo a curiosidade infantil, que termina por atrofiar e encolher-se a um canto do cérebro, onde também mora a futilidade.

          Por isso, um curioso é, frequentemente, confundido com um leviano infantilizado. Mas, cuidado, não estou falando aqui da curiosidade de saber com quem está saindo aquela colega do escritório, por que o marido da vizinha perdeu o emprego, ou com quem ficará a mocinha no final da novela. A que interessa é a curiosidade intelectual. Ser curioso, nesse sentido, significa manter aberto o canal da aprendizagem. No mundo atual, superconectado e hiperinformado, esse canal será uberdemandado.

          E sobre o preconceito, entenda-se que ele não é apenas a dificuldade em aceitar o diferente, mas também a resistência a aprender o novo. Um preconceito é um conceito prévio, anterior, que, por estar há mais tempo alojado em algum canto do cérebro da pessoa, vale-se dessa usucapião para impedir a entrada de um novo inquilino. Não dá para imaginar um inimigo mais poderoso do aprendizado e da evolução do que o apego férreo a conceitos anteriores, por melhores que tenham sido até agora.

 

          Por que temos nós, adultos, a dificuldade de admitir nossa ignorância, e expor nossa necessidade em aprender o novo? A veste que veste a alma do homem que acha que sabe tudo, tem a etiqueta da arrogância. Mal se dá conta ele, que ela já saiu de moda.

 

Livro: Um novo olhar – E outras crônicas sobre um mundo volátil, de Eugenio Mussak. Editora Integrare.

Livro; Um novo olhar; Eugenio Mussak; Integrare


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